Há mais de um mês estou com essa frase pairando na minha cabeça. E se eu não puder mais escrever?
Toda vez que escrevia, uma grande chama se acendia em meu coração, um desejo profundo de colocar pra fora as histórias que haviam aqui dentro. Escrever sempre foi a minha válvula de escape, meu auxílio nos momentos de dor, minha forma mais genuína de me expressar, minha conexão mais forte com o meu Criador.
Sei que a escrita, a criatividade e meu lado autodidata não foram coisas com as quais eu nasci, foram talentos que Ele me deu. Parei pra me perguntar se o que tenho sentido não é a percepção de que talvez eu não estivesse fazendo um bom uso deles, talvez eu estivesse sendo o servo mau que escondeu na terra aquilo que havia ganhado. Talvez Deus tenha decidido que era hora de recolher aquilo que ele me deu. Eu não escrevo mais…
Porque agora o momento é de completo silêncio. Consigo imaginar perfeitamente como devem ter sido os 400 anos de silêncio que o povo de Israel viveu entre Malaquias e Mateus. Aquele povo que, mesmo em seus erros, podia ouvi-Lo falar. É desesperador. Ao invés de constantemente ver Deus no ordinário, hoje só consigo ver um deserto imenso se abrindo a minha frente. Desconexão.
E seu eu não puder mais escrever? E se eu não puder me conectar mais com meu espírito e meu espírito com o Espírito Dele? Eu não sei como me sentir… estou perdida.
Não vejo punição, vejo misericórdia. O olhar de um pai atento, esperando que o filho reconheça que não é dono da verdade, da razão, e que não tem o controle de tudo. Que o ego, a inteligência e o dinheiro não valem de nada. O papel e a caneta não me dão mais nada. A minha voz criativa foi calada.
Dentre tudo o que vivo, meu pecado me afastou Daquele que sempre me amou. Minha autossuficiência O calou. Minha arrogância falou mais alto, meu pecadinho foi maior do que o pecadão que eu via no outro, porque pra Ele não importa mesmo, somos todos iguais. Com o coração apertado reconheço minha insignificância.
E se escrever fosse minha única forma de me conectar com ele… e seu eu não a tiver mais… o que será de mim até o fim dos tempos? Uma peregrina que ficou pra trás? E se for culpa e não arrependimento genuíno? E se, após tantos anos fazendo o mesmo, eu não for mais perdoada? Por que eu não pedi ajuda antes? Por que continuei pelo caminho… Chorei e repeti a oração de anos atrás: se não tenho mais propósito, me leva Deus…
Dói não sentir nada, não ouvir nada, não escrever nada. Eu só queria poder recomeçar, resetar do ponto em que tudo começou e poder fazer novas escolhas. Mas Ele me olha e diz não é você que (…), trazendo tudo as claras. Ele diz: você não pode voltar a trás. Eu não sei como me sentir, se no final foram as minhas e somente as minhas escolhas que me trouxeram até aqui. Fiz tudo errado de novo.
Enquanto sentada no deserto, me rendo. Escrevo minhas palavras de perdão na areia. Reconheço para que eu fui feita. Desejo ardentemente me livrar de mim, para que haja apenas Ele. Quando mais o tempo passa, só sei que não quero nada de mim, da minha natureza humana, dos meus ídolos, das minhas paixões, dos meus desejos. Porque eu quero a Ele mais do que quero a mim. E se eu não puder mais escrever, tudo bem. A história Dele é a única que quero contar. Ele escreve bem melhor do que eu… sempre foi assim, desde o início do mundo. Eu fui feita por Ele, para Ele. Eu abro mão do meu livre arbítrio, porque entendi que foi pra isso que Ele meu deu.
Minha dor não é maior do que o peso que Ele carregou. Ele me ouviu e disse que não vai me levar. Ainda bem que o Pai entende das besteiras que o filho fala. Voltei para escrever, pelo menos a minha carta de perdão, desejosa, esperando apenas, que Ele me receba novamente como filha.
Me perdoa Pai… acho que esqueci o que é ser filha. Deixei o jardim achando que não precisava voltar. Quis escrever meu futuro achando que era melhor, a ansiedade que me tomou, a vontade de querer fazer do meu jeito. Não foi pra isso que eu fui feita… Quero voltar para o teu colo, onde me sinto segura. Me abraça, para que meus pedaços não caiam por ai. Aquieta essa alma que tem medo. Me deixa descansar, porque eu não posso mais… Escreve por mim…
Porque no silêncio Dele, Ele está falando, e no meu silêncio eu posso senti-Lo. Porque seu eu não puder mais escrever, deixarei que ele escreva a história que Ele quer contar. E ainda que não haja palavras, ainda haverá uma… a Dele através minha…
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