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Escrever não vai mudar a sua vida

Foto do escritor: Je FachiniJe Fachini
moça segurando livros

Um pouco do meu testemunho com a escrita de ficção. Como eu comecei a escrever...


Meu testemunho começa muito antes de mim, na história de amor dos meus pais. Eles se casaram jovens, mas a vida depois de casados não era exatamente como esperavam. Depois de um tempo juntos, meu pai começou a ter problemas/vício com jogos de azar. Os dois tinham muitos bens na época e aos poucos perderam tudo. Nesse período minha mãe engravidou da minha irmã mais velha e quando menos percebeu, meu pai havia perdido tudo o que tinham. Ele, então, decidiu abandonar minha mãe e minha irmã para morar com outra mulher.


Desamparadas e sem sustento, minha mãe e minha irmã ainda pequena, foram para São Paulo tentar recomeçar. Elas moraram em porões, passaram fome e enfrentaram muitas dificuldades — até que alguém apresentou Jesus para minha mãe. A partir daí, tudo começou a mudar. Ela se tornou uma nova mulher e começou, sozinha, a conquistar de volta tudo o que havia perdido.


Quase dois anos depois, meu pai, "arrependido", pediu para voltar. Minha mãe não queria aceitá-lo, mas entendeu que o propósito deles ainda não havia acabado. Ele, que jurou que nunca pisaria em uma igreja, se converteu e abandonou completamente os comportamentos errados. Minha mãe, antes orgulhosa, conseguiu perdoá-lo de verdade, e minha irmã também. O perdão foi genuíno, não foi aquele perdão frágil, que ressurge em qualquer discussão, mas O perdão que gerou um testemunho poderoso sobre o casamento deles, que perdura até hoje quase 50 anos depois. E então, eu nasci. Um presente de Deus! Depois de 14 anos do nascimento da minha irmã, lá estava eu, a pedido dela se me gabar.

Por muito tempo, achei que meu propósito era "salvar" o casamento dos meus pais. A qualquer pequena briga, a história que foi contada havia ficado no meu inconsciente, me dando medo de viver tudo o que minha irmã viveu. Então eu “precisava” ser a pacificadora — e, às vezes, ainda sou.


Cresci na igreja. Tive acesso às melhores escolas, meus pais me deram tudo o que podiam. Eram um pouco ausentes pelo trabalho, mas quando estavam presentes, era de verdade. Eu era popular, tinha amigos, saía, viajava e era ativa na igreja.


Até que “A Grande Depressão” chegou. Não houve um trauma específico, nada que justificasse aquilo. Simplesmente de repente, parei. Parei de estudar, parei de sair, parei de ir à igreja, parei de ver meus amigos. Ficar em casa era a única coisa que fazia me sentir segura. Mas, apesar disso, me sentia sozinha, fracassada, incapaz. Tinha medo de perder as pessoas que eu amava. Tinha medo de morrer. Por isso, me anestesiei do mundo, de mim mesma, até que eu parasse de sentir qualquer coisa, qualquer emoção. Todos os meus dias eram como uma névoa.


Foi aí que ganhei um livro e comecei a ter o habito de ler. A leitura se tornou meu refúgio. Metade do meu dia era preenchida por livros e séries, a outra metade pelo sono. Ninguém entendia o porquê. Nem eu. Afinal, eu não acreditava em Deus? Minha fé nunca esteve em xeque, mas eu também não acreditava que Ele queria fazer algo por mim. Ele tinha coisas mais importantes.


A busca por novas leituras me levou à comunidade literária de 2008 —quando tudo isso aqui ainda era mato. Na época, os conteúdos eram compartilhados em blogs, e eu achava aquilo incrível. Aí decidi criar um para mim. Quando comecei, nem sabia fazer uma resenha. Aprendi sozinha a fazer o layout do blog, mesmo que houvesse templates prontos, eu queria do meu jeito. A comunidade era pequena e receptiva, logo comecei a escrever além das resenhas — pensamentos, indicações de filmes e séries. Ter um blog me deu um propósito.


Passei a ler cada vez mais para ter conteúdo para publicar, e isso trouxe um pouco de luz para minha escuridão. Com o tempo, também comecei um tratamento terapêutico e psiquiátrico. Fiz amigas digitais —algumas ainda fazem parte da minha vida, outras se perderam no caminho. E aos poucos as coisas foram voltando ao normal. Depois de sete anos, voltei à vida.


Voltei para a igreja, decidi terminar os estudos por meio de um supletivo e me formei no ensino médio. Comecei a trabalhar. Mas tudo isso não foi fácil. Voltar à vida doeu. Doeu ver que o mundo tinha seguido em frente. Minhas amigas estavam namorando, casando, vivendo coisas que eu não vivi. Voltar para a igreja também doeu. Eu não sabia mais qual era o meu ministério. Sentia que não tinha mais um lugar. Percebi o quanto eu havia perdido. Mas, agora, eu estava um pouco mais preparada para lidar com essa dor. Comecei a escrever, para lidar com ela.


Escrevia, não só resenhas, mas sobre as minhas dores. Com medo de que alguém lesse e descobrisse meus pensamentos mais obscuros transformei tudo em histórias. Meu primeiro livro nasceu assim. Escrevi três mil palavras de uma vez, e não parei mais.

Comecei fazer faculdade. Eu queria algo relacionado a livros e escrita, mas o curso de Produção Editorial era caro demais. O que eu podia pagar, mais próximo disso era Letras. Então, fui. Na faculdade, fiz novas amizades, experimentei coisas novas e me arrisquei mais. Porém, ali também foi onde minha fé, já abalada, foi testada. Tenho que confessar que pequei, mas nunca me desviei do caminho, pois minha base estava na rocha.


Naquele lugar me apaixonei pela educação. Meu curso era focado em licenciatura, e cabei percebendo que amava aprender e ensinar. Sempre fui curiosa, descobri habilidades que nem eu sabia que tinha. A educação, para mim, não foi apenas sobre ensinar, mas sobre perceber que eu poderia realmente ajudar alguém. Hoje, consigo enxergar uma parte do todo: ali a me tornei a pessoa que eu queria que tivesse me ajudado lá no início da minha depressão.


Olhando para trás, vejo um pouquinho melhor os planos de Deus para mim. Não vejo o todo, mas Ele vê. Tudo o que vivi me trouxe até aqui, neste momento, escrevendo isso para você. Talvez, para você que precise ler isso. Talvez, você, como eu, não consiga enxergar para onde as suas lutas estão te levando. Mas eu sei que o meu caminho em Cristo não seria o mesmo se eu não tivesse passado pelo que passei.


Eu precisei nascer em um lar cristão, com uma identidade errada. Precisei enfrentar a depressão para aprender a gostar de ler. Para então aprender a me expressar através das palavras e assim escolher uma faculdade que me ensinasse a ensinar. Para que hoje eu pudesse escrever histórias e ajudar outras escritoras a contar as delas. Para que eu pudesse ajudar garotas que, como eu, precisavam de livros que refletissem Deus em meio à escuridão.


No final, é isso. Eu fui uma garota que foi “salva” pelos livros errados. Graças a Deus, Ele tinha um propósito. Imagina se, naquela época, eu tivesse encontrado um livro que me levasse para mais perto de Deus?


Deus me salvou e, através da leitura, me mostrou um destino completamente diferente daquele que eu poderia imaginar. Pensa só: eu, aquela menina envergonhada e tímida, na frente de uma sala de aula com mais de trinta alunos, como acontece hoje. Ou aqui, falando com você, que talvez nem me conheça…

Então, não! Escrever um livro não vai mudar a sua vida. Mas pode ser exatamente aquilo que alguém precisa ouvir de Deus através das suas palavras.


Sinceramente

Je

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