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Foto do escritorJe Fachini

Esse negócio de ser professora...


Essa é 1/4 da galerinha que dou aulas hoje em dia.



Hoje é Dia dos Professores e eu nunca imaginei que me tornaria professora. É claro que quando criança eu costumava brincar de “escolinha”, mas quem nunca? A verdade que eu sempre gostei mais de ser aluna do que professora. Eu costumava pedir que minha mãe me passasse lições para que eu pudesse fazer e ela me daria nota. Ela muito querida, geralmente passava desenhos e já que eu nunca fui muito boa nisso, quase nunca tirava um dez sincero. Afinal ela é a minha mãe e tudo o que eu faço aos olhos dela é lindo.


Eu sempre achei que iria mais para a o caminho da profissão que eu mais brincava: secretária. Por muito tempo a minha ambição se baseava em trabalhar para uma grande empresa, usar terninhos e salto alto, ter um telefone e poder usar algum ramal aleatório dizendo que estava passando uma ligação do fulano de tal.

Às vezes penso, olho para trás e não entendo bem como o meu caminho me levou até aqui. Paro por um minuto, sem acreditar e digo: “Uau”!


Eu iniciei mesmo a minha vida profissional na parte corporativa, tive algumas experiências administrativas, mas eu não amava aquilo. Eu amava ler. Ainda amo. Mas, eu, no final da minha adolescência me apaixonei pelo meio literário, foi por isso que criei o meu primeiro blog. A partir daí, comecei a ter contato direto com autores, editoras e acredite só… leitores. Eu tinha leitores em um blog que cada vez crescia mais.


Eu trabalhava 40 horas por semana e mais umas 15 ou 20 horas para manter o meu blog. Eu queria trabalhar com aquilo a qualquer custo. Passava horas procurando a faculdade que poderia me inserir nesse meio. O curso dos meus sonhos era Produção Editorial, ou até mesmo Editoração, se pudesse poderia me contentar com Jornalismo ou Publicidade e Propaganda, mas eu tinha uma ideia na cabeça e nenhuma das minhas opções eram tão boas quanto a primeira.


Lembro de ter passado meses matutando o que eu faria. A faculdade que eu queria era no 1º semestre mais cara que o meu salário inteirinho. Orei por um milagre, passei dias debruçada naquilo. Então, uma ideia apareceu. Eu podia fazer Letras. Eu trabalharia com literatura, teria bagagem suficiente para trabalhar e depois me aprofundar mais no assunto que eu queria.


Ai, apareceu a segunda encruzilhada. Eu faria bacharelado ou licenciatura? Bacharelado me levaria mais para o ramo de tradução. Ótimo, eu pensei. Mas eu não estava confiante com o meu inglês, e eu não sabia exatamente como era o mercado e disponibilidades de trabalho nessa área. Mesmo a contra gosto inicialmente, optei por licenciatura. Na pior das hipóteses, eu poderia dar aulas, e professores se precisa em todo lugar. Ok, pensei.


O primeiro dia da faculdade foi o meu melhor e o meu pior. Eu estava há quase 5 anos sem estudar, eu estava insegura. Como eu poderia estar na faculdade se eu nem terminei o ensino médio de forma regular. Eu seria uma péssima professora e ainda por cima, uma professora que terminou os estudos por meio de um supletivo. Lembro daquele dia como se fosse hoje.


Com lágrimas nos olhos eu me olhei no espelho do banheiro da faculdade e encarei o medo. A classe naquele semestre tinha quase 40 alunos. Foi o melhor também, porque naquele mesmo dia conheci minhas amigas, que amo e converso até hoje. Muito provavelmente eu teria abandonado tudo, se elas não tivessem acreditado em mim, quando nem eu mesmo acreditava.




Minha fala para todos os professores quando me perguntavam o que eu esperava do curso e em que eu trabalhava: “Eu não quero ser professora, quero trabalhar com livros”. Mal sabia eu… Quatro anos e mais um pouco eu me formei. Peguei meu diploma: Licenciada em Letras Português/Inglês. Minha primeira grande conquista foi terminar. Como eu já disse, eu quase desisti, muitas vezes. E no final ficou a pergunta, tá e agora?


Eu me encantei com a ideia de ensinar. Mas, a verdade é que a faculdade não prepara a gente para ser professor. A minha só me deu bagagem teórica, ir pro campo de batalha, eu achava que era impossível. Eu só terminei o meu estágio, porque numa parte dele eu precisava fazer dupla com a minha amiga e não podia decepcioná-la. Fiz por ela, muito mais do que por mim.


Consegui o meu primeiro emprego como professora de inglês. Logo inglês. Uma coisa era amar a língua, falar aqui e acolá, outra totalmente diferente era ensinar. E se eu ensinasse algo errado? Aceitei o desafio. Nos meus primeiros dias passava horas estudando o material, lendo e relendo, anotando todas as dúvidas que os alunos poderiam ter.


No final daquele ano fui surpreendida, a escola decidiu triplicar a minha quantidade de aulas e recebi o meu primeiro feedback dos alunos, pais, coordenação. O que eu ouvia não foi nada do que eu esperava. “Você é uma ótima professora!”



Em uma outra cidade, numa escola completamente diferente, tenho 400 e poucos alunos, trabalho 55 horas semanais. Tem dias que estou cansada, frustrada, irritada, mas ainda assim, nesses dias estou feliz. Hoje eu entendo aquilo que falam sobre realização profissional.


Amo ver meus alunos, amo os seus abraços, amo quando eles me confidenciam algo, amo como eles às vezes me enxergam como alguém em que eles podem confiar. Amo quando eles me questionam e me corrigem, amo ver as brigas e as encrencas que eles causam. Amo ver que eu era como eles. Amo ainda mais aqueles que me valorizam e me dão espaço para realmente ensinar algo, seja sobre inglês ou sobre a vida.


Tem dias eu subo as escadas da escola e ainda não acredito que estou indo pra dentro de uma sala de aula, me pego com o apagador na mão e vejo que não sou mais aluna. Ainda tem dias que essa ficha precisa cair.

Logo eu que não sabia ser professora, que era tímida e com vergonha de falar em público, logo eu que não terminei o ensino médio. Logo eu que não fiz cursinho de inglês, que não fiz intercâmbio e que aprendeu inglês sozinha. Logo eu…


As coisas foram tomando os rumos que deveriam, ainda que não fosse o meu sonho, hoje é. Não me imagino trabalhando em nada além disso, todos os meus caminhos me trouxeram aqui… E esse negócio de ser professora, acho que deve ser meio como ser mãe, a gente vai aprendendo pelo caminho, e acredite… eu não quero parar de caminhar nunca!

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