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Foto do escritorJe Fachini

Invisível - Contos Taylor Swift - #1

Ele sorri de lado, se apoia na minha mesa e fala:

— Senta comigo?

— Tá bom! – Respondi.

Danilo é um dos meus melhores amigos. Desde que entrei nesta escola há um ano atrás ele sempre faz questão de me ter por perto. O grande problema é que para ele eu sou apenas isso. Uma amiga.

— Você sabe como responder isso? – Ele diz fazendo graça e apontando para exercício de matemática que o professor tinha passado para nós.

— Ainda não aprendeu que matemática não é comigo? – digo frustrada.

Ele é o popular, todos que passam pela nossa mesa fazem questão de chamar a atenção dele. Eu o observo de canto de olho enquanto tento me concentrar em resolver o problema que o professor passou, sem a ajuda dele. A aula termina sem que eu tenha feito nenhum progresso. O professor me olha como sempre, me questionando, o porquê eu ainda continuo cobrindo Danilo nas tarefas que ele não entrega. Pedi, sem dizer nada, uma chance para terminar em casa e ele assentiu.

— Tchau linda! – Danilo me deu um beijo estalado na bochecha se despedindo.

Eu não me lembro quando comecei a me apaixonar por ele, foi de leve como uma brisa que antecede a chuva, quando percebi, ela já caia sobre mim. Sem proteção meu coração permanece assim, porque é melhor dançar na chuva do que olhá-la pela janela.

*

Chego mais cedo na escola no dia seguinte. Sento no meu lugar, abro meu caderno e começo a escrever uma carta. Perdida nos meus pensamentos só levanto a cabeça quando ele entra. Ele sorri, como todos os dias, joga sua mochila no chão e se senta na carteira em frente a minha. Automaticamente fecho meu caderno.

— O que você está fazendo? – Ele pergunta curioso.

— Nada que seja da sua conta. – Respondo sorrindo.

Eu perco sua atenção quando a Bruna entra pela porta. Ela é uma das minhas melhores amigas, e amiga dele há mais tempo do que eu. Ele gosta dela, como eu gosto dele. Ela sabe como ele se sente, mas ele não sabe como eu me sinto.

Ele se levanta, com ar despreocupado, faz uma brincadeira boba com outro garoto da sala para chamar atenção dela. Ela não liga. Passamos os dias assim. Ele busca conquistá-la e eu permaneço invisível.

Mais tarde naquela manhã, Danilo me chama para conversarmos em uma das mesas mais afastadas do refeitório.

— Será que você não poderia conversar com ela? – Ele me pergunta com cara de cachorro pidão.

— Eu já fiz isso Danilo, ela disse que só gosta de você como amigo. Ela está saindo com um cara do ensino médio. Não dá pra você desencanar? – falo segurando o choro na garganta.

— Você acha que é assim simples? Acha que eu não já tentei? – Diz num tom irritado.

— Ah! Pode ter certeza de que eu sei exatamente como você se sente. Sabe o que é mais frustrante? Se você fosse um pouquinho mais esperto, você talvez percebesse o que está bem na sua frente. – Eu falo irritada.

Levanto e saio de perto dele. Volto para sala de aula vazia, coloco meus fones de ouvido e termino a minha carta. As lágrimas enchem os meus olhos, mas me recuso a deixa-las caírem. Ele me procura depois de algum tempo, como sempre. Ele sabe que não gosto de fazer papel de cupido, ele sabe que isso me deixa chateada, mas ele acha que é porque não quero estragar minha amizade com a Bruna e não porque sou completamente apaixonada por ele.

— Tá, me desculpa! Eu sei que você não vai falar com ela. Desculpa ter te pedido isso de novo. – Fala arrependido.

Eu assinto, mas não respondo.

– Eu sou esperto, apenas me faço de bobo. – Ele me olha nos olhos.

Por um segundo penso que ele pode saber a verdade.

— Eu sei que não devo criar esperanças. Ela nunca vai me dar bola. – Ele diz.

O momento passa e irritada com o ego ferido dele coloco as duas mãos em seu rosto. Faço com ele preste atenção no que eu vou falar:

— Eu só queria que você percebesse. Se você soubesse... – O olhar dele me faz perder a coragem. — Se você conseguisse ver...

Solto seu rosto, seguro o choro, arranco a folha do meu caderno e entrego para ele. Enquanto ele lê, me levanto para sair da sala.

— Invisível... – Ele fala em voz alta e é a única coisa que ouço antes de correr para o banheiro feminino.

O sinal do intervalo toca e eu permaneço ali. Ouço alguém chegar, limpo as lágrimas e me preparo para sair do box. Ao abrir a porta, eu o vejo.

— Você está louco? Se alguém te pegar aqui, você vai pegar uma advertência. – Coloco a mão em seu peito empurrando-o para fora.

Ele põe a mão sobre a minha e me impede de tirá-lo de lá de dentro.

— Você nunca foi invisível para mim. Mas... eu... eu não posso... você não entende... eu não posso... – Ele se embaralha com as palavras e eu estou pronta pra ter meu coração despedaçado. — Eu não posso te perder. – Ele engole seco.

Eu não tenho resposta. Ele coloca meu cabelo atrás da orelha, se aproxima, meu coração bate forte. Ele me abraça.

— Eu não posso te perder, se a gente ficasse juntos e não desse certo... Eu não suportaria se eu te machucasse. – Ele luta com as suas próprias palavras.

— Você não percebe que eu já estou machucada? – Sussurro em seu ouvido. — Eu não posso mais fingir que não sinto nada, eu não posso mais continuar... – Tento me desvencilhar do seu abraço.

Ele me solta, e voltamos para a sala de aula, sem dizer mais nada. Nos últimos dois períodos ficamos quietos, cada um concentrado nos próprios pensamentos. Consigo olhar por cima do seu ombro, e vejo que ele segura a carta aberta em cima do seu caderno. O sinal do fim da aula toca, ele não se move.

Enquanto guardo meu material, falo sem olhar para ele:

— Não precisa se preocupar, sei que você não sente o mesmo. Sério, vai passar. Esquece do que eu disse tá... – Coloco minha mochila nas costas e me encaminho para a saída.

Ele se levanta e segura a minha mão antes que eu possa me afastar completamente.

— Você nunca foi invisível pra mim... – Ele repete a frase pra mim. — Eu também percebo seu sorriso. Eu também posso ver através de você. Eu concordo, eu acho que a gente pode ser um lindo milagre inacreditável.

Então, ele me beija com carinho, o beijo que sempre esperei ao invés de ser apenas invisível.

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